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BEM VINDO ÀS NOSSAS POESIAS

As poesias aqui aqui postadas são atualizadas periodicamente.

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E VIAJE CONOSCO ÀS PALAVRAS  DAS MISSÕES DO REINO DE DEUS!

 

AFRICANA

 

 

 

 

Que momento o sol a queimou?

Hora do Mata-bicho?

Criança quecada,

Fogareiro em brasa,

No chão,

Na poeira que rola ao toque da capulana.

Shima é coisa gostosa,

Comida que anima,

Que faz forte o braço que vai para a machamba.

Quando passa no caminho,

Sabe a beleza que tem?

É consciente do impacto que produz?

Não sabe ela que beleza é dor que dói?

Que é desorganização que machuca?

Machuca...

Matchessa...

Palavras gêmeas,

Corrediças de pés descalços,

Palavras de mãos dadas,

Uma para o aconchego, outra para a crueldade...

Peitos pretos na boca da criança quecada,

Olhos altivos e cara de gente perdida,

Num gole só,

Alegria descabida.

Ah, africana, mulher!...

Não sabe que minha alma é pobre,

Que está desorganizada e machucada?

O que hei de ser,

Que palavras campear,                 

 A fim de convencê-la de que Deus mesmo a vê,

Pela mesma machucadura que me dói?

O sol?

Esse já esquentou,

E ela vem do mato,

Carga bruta de paus na cabeça,

Lenha para aquecer,

Paus para coser...

Uma parte para vender,

É preciso comer!

Cai a noite,

Fogueira de carvão.

Penso nela, nos beijos dela,

Nos beiços dela...

Rachados ou beijados?

Pele acariciada ou estiraçada?

Ah, Deus que a vê...

Como dizer a ela que a vês pelos meus desassossegos?

Que a disseco na palavra desdobrada?

O que posso ser para que ela mesma creia na beleza que tem,

No impacto que me faz,

Na plenitude que dás?

Plenitude...

Palavra distante dela,

Ela, que leva lenha na cabeça,

Filho na queca,

Boca no peito, vida no eito...

Poeta sou,

Porém, insuficiente...

O que achei para contar a alma que me encanta?

Mulher africana,

Desafia-me,

Desassossega,

Segue rindo, legando toda a vida,

Deixando-me só,

Pobre de uma palavra que a encontre,

A vasculhar uma ideia que a explique.

Poeta sem palavra, o que sou?

Africana, é texto que não se desdobra!

Eliel Eugênio de Morais

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A MULHER DO PASTOR

 

 

O templo está preparado,

O teto de capim sobre quatro estacas fortes,

Troncos finos esticados na horizontal

São bancos de grande conforto.

Manhã de domingo,

Sol esplêndido no capinzal amarelo,

Vento tranquilo na palha do mato seco...

Ele surge da floresta,

Alto,

Magro,

Cara de bom...

É o pastor.

Perguntam-lhe: Não veio a mulher?

Não...

Responde o pregador: Está amuada!

Amuada...

E, lá na matchessa,

Mata adentro,

Ela está só...

Parada no umbral da porta,

Calada na solidão dela,

Só dela mesma.

Levanta os dedos pretos e toca a face machucada,

O sangue seco do lábio rachado,

O hematoma da cara que brilha ao sol...

Bem que o pregador a ama,

O chamboco, que até pouco foi,

É o modo dele amar,

Esse mesmo dele, e, daqui a nada,

Nada há de ser...

Ela que é burra culpada,

Precisa apanhar,

Para saber fazer as coisas bem.

Bater é jeito bom de educar,

Todos hão de saber,

Nas matchessas e machambas vizinhas,

Que o marido está a cuidar,

Que quer mulher sabida.

Ela, parada lá,

Os dedos ainda a acariciar o beiço rachado,

Escuta sua voz pela mata a pregar!

Lágrimas espremidas,

Escondidas,

Livres a rolar...

Dadas ao vento dessa manhã de domingo.

Bonita, sabe que é,

Como pode o pregador não perceber?

Pele macia,

Carente do carinho que nunca viu...

Mulher, sabe que é,

De que vale sonhar?

Ela não sabe,

Mas sua solidão é como a da viúva de Sarepta...

Sua dor,

Como a mulher da cidade de Naim...

Seu vazio e sua cara machucada,

É o parto de belezura que sai de mim!...

Eliel Eugênio de Morais

DOÇURA PRETA

 

 

Seu nome é doçura,

Dessas que já conheço.

Coisa parecida com mel, doce que é...

Coisa parecida com fel, amarga que é...

Primeiro, a vi entediada,

E cacei seus olhos como o leopardo faz com a presa.

Depois, ela riu,

E eu tive esperança,

Como a presa que pensa escapar...

Esperança?

Seu nome é doce,

E meus dedos deslizaram por sua face...

Ela, macia,

Eu, confuso.

Menina desconfiada olhando meus dedos,

Metade rindo,

Metade desconfiando,

Por inteiro perdida na pobreza e na dor da sua África...

Completude? Só a desconfiada esperança!

Beijei-lhe a face como se pudesse beijar por Deus,

Como se Deus soubesse sua dor por meus lábios...

Sua pele é doce,

Negra,

Humilhada e orgulhosa,

Esperançosa...

Deus a quis no toque tímido da minha boca?

Ah, se não quis, por que me trouxe aqui?

Menina africana,

Pequena,

Sempre preta...

O que fazer por ti para que percebas Deus em mim?

Por fim sorriu,

Afinal, seu nome é doçura...

Mas riu como quem diz: vá-te embora...

Que gostosura te dará Deus através de mim?

Eliel Eugênio de Morais

TOCA SANGRE

 

 

Gente esparramada como água de igapó,

Gente aninhada nos quartos pobres,

Conversando com a solidão,

Arredios ou suplicantes,

Dependendo da questão.

Constrangidos nos cantos dos cômodos cobertos de palha,

Lona preta,

Lona azul,

Céu azul!...

Fumaça subindo da chaminé simplória,

“chicha” fria na garganta,

Menino correndo no “toca sangre”...

Aí tem “risa” estralada,

Gente sumida na “paja”...

Um que corre,

Outro que esconde,

Farol que busca o corpo escondido na sombra que foge ao luar...

“toca sangre” - Grita um,

“vá por allá” - Grita outro,

“venga a mi” - Sentencia o caçador!

Um “perro” rusguento aparece de repente,

E avança na noite...

Enxurrada de menino que brota da relva,

Corrida e gritos,

Risadas por fim...

E tudo começa outra vez.

É noite de inverno,

Luar partido e estrelas aos milhões na beirada do rio,

O “toca sangre” vai noite adentro,

“juego de niños”...

Coisa a que o Reino dos céus se faz semelhante.

Há um faroleiro que caça,

O mesmo, talvez,

Que tenha lançado mão do arado...

Tem gente escondida na relva do rio,

Gente, essa pura expressão do interesse do Eterno,

Camuflados nas sombras,

Perdidos nos cantos de palha.

O que tem a mão no arado,

Sai com seu facho de luz, buscando um a um,

Os que se fizeram amoitados nalgum canto de treva...

Sua pergunta?

Sua súplica?

Sua caça?

A mesma que escapa das gargantas e estribilham na noite ribeirinha:

“toca sangre”,

“toca sangre”...

Toca la sangre!

Eliel Eugênio de Morais

O GRITO

 

Ouvi seu grito,

Ecos,

Ricocheteias do seu berro...

Vi suas costas nuas,

Peitos balançando ao vigor do chicote,

Sangue a borbulhar,

Corte agressivo...

Uma preta sendo surrada

Pelo braço mesmo que a cobiça...

Braço tirano.

Bramiu o fio de couro, cortou carne crua...

A mesma que nunca será sua.

Achou um que a amava,

E fê-lo a chicotear,

Cortou carne bonita...

Como se outro a ela matasse,

Matava a sua insana agonia,

A brutal verdade de que a ela pertencia...

Grita a preta,

Grita o amante que a castiga,

Urra o tirano que a quer...

Sussurra a negra a apanhar,

Beiços debatendo-se num bocejo ao amigo que a espanca.

Ela diz: melhor que sejas tu!

Pode o braço que ama ferir sem dor?

Castigo desavergonhado ao tirano...

Meu pensamento a vagar, perdoado por ser poeta,

Sem saber se é frenético ou plácido...

Escuto o grito de além,

“De terra mui remota”, diria o profeta...

Pois que a profecia grita, melhor que a poesia.

Há um braço tirano resfolegando-se numa costa nua,

Um fio de couro rasgando uma alma despida...

E ela grita...

É ao amante que grita,

Balança os peitos ao vigor de seu brado:

Pegue o chicote,

Mate-me, tu...

Pegue o que quiser,

Pule para cá,

Perceba o cheiro da filha longínqua...

Pois é melhor que morra na ferida do amigo

Do que mendigar esperança ao chicote do tirano.

Então, é direito...

Corra para cá,

Tome o fio de couro,

O amor é custoso, mas liberta!

Eliel Eugênio de Morais

A MULHER QUE VI

 

Cara cansada,

Pele castigada pelo sol,

sol que há pouco nasceu.

O cabelo forçado no pente duro,

cheirando a perfume que o outro deu.

Parece pelo de milho,

vermelho de vento,

amarelo de secura,

raspento de mulher feia.

Bonita, sabe que é,

mas sacudida,

percebe que ninguém vê.

Acostumou-se com a feiura.

Mal beijada pela noite,

cedo pula para o batente,

marido batente,

marido tombado no boteco,

valente,

brusco na palavra,

rudo de noite.

Ela?

Susto descontente...

Ai dela se não quiser o que ele quer.

Beijos e boniteza?

Mordida é mais aceito,

só sexo no leito,

coisa meio degradante,

parecendo bicho.

Ela sofre e quase gosta, achando-se quase meretriz,

pois que acostumou-se ao desgosto.

Do bafo da cachaça ao palavrão,

fica o sexo esquisito...

Essa coisa de gostar do desgosto.

Vi a cara dela,

Doída do sol,

embalada numa raiva comida,

do trabalho,

trabalho, trabalho...

Nada de gosto,

pois que gosto é alegria,

sem o ranço da desgostosura...

Eu, alma pequena,

encharcada das reminiscências de Deus,

pedindo ao pé dela,

para ser refúgio,

ponte entre seu desgosto e o consolo,

farol na treva que a rodeia,

isca certa para seu coração desprotegido.

Como não ser?

O cansaço dela me desorganiza.

Ao pé dela, suplico:

Ó mulher,

o que posso ser para que Deus chegue a ti

através do nada que vês em mim?

Eliel Eugênio de Morais

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